05 fevereiro, 2006

Material para postagem

Um pouco de função conativa.
Que tal escrever sobre o por quê é tão mais fácil escrever quando se está deprimido? Talvez porque o "mal deste século" é, como o nome indica, compartilhado por tantas pessoas que, enquanto escreve, a certeza de que será aceito permeia cada palavra. Ou então escrever sobre a prepotência de que será lido por tantas pessoas assim, sobre a incongruência do desejo de escrever e, com a mesma força, o medo de ser lido. Cada autor sofre de diferentes graus dessa página (fina, branca, de papel, cortante, fria... ou então embolada, amarela, dura, maciça e pesada... quem sabe ainda aquela de papel reciclado, que acabou de sair da peneira e ainda não vê sentido em ser... meu deus, como eu posso me esquecer dessa de vidro, com milhares de micro formigas se movimentando para todos os lados com o simples clicar de um mouse, essa que te dá a impressão de controle sobre algo menor e mais fraco que você...).
Poderia-se ainda escrever sobre o acaso. Uma música que se estava apaixonado e, de tanto ouvi-la, enjoou. Acontece que enquanto começa a escrever naquela página amarela de maché, com toda a densidade que ela exige, notas são reconhecidas pelo seu sistema mais profundo... o tímpano. Aquela música exaustivamente explorada se excita em meio a pensamentos e ondas sonoras logínquas.
Quem sabe, escrever sobre a definição de amor. Uma bobagem que se sente após uma onda de paixão, ou um complexo de sentimentos nos quais a dor geralmente é o mais proeminente, ou ainda uma sucessão da doença que tira as pessoas do seu normal (e de qualquer outro normal) que é a paixão. Neste caso uma doença ao cubo, ou até à sexta potência.
A inutilidade de um domingo é sempre um ótimo assunto. Isso sem entrarmos no mérito do Faustão e do Gugu. Um domingo sem televisão. Aqueles nos quais se fica deitado curtindo o por do sol, aquela sensação gostosa de fim de tarde, o início do desespero da segunda chegando, a impaciência de não se ter nada que se queira fazer e o querer proeminente de se fazer algo. A magnitude do início daquela noite perdida, assim como foi o dia, uma vez que você dormiu mais do que gostaria. Obviamente eu não estou contando com as inúmeras possibilidades de um dia ótimo uma vez que nós fomos à feira hippie (no meu tempo conhecida como feira de artesanato). Mas se eu estivesse, aquele filme que você espera há tanto entra em cartaz. Há programa melhor que esse? Feira hippie, almoço (provavelmente num bu-raco-teco), vadiar até a hora do filme tão esperado (o quê? talvez umas 2 horas? 3, no máximo!?), pegar a sessão de cinema por volta de 6 horas e sair do filme já à noite. Como eu disse, prá onde foi o seu tão merecido domingo?
Pressão? Qual? Se você tem problemas com os pais ninguém tem nada a ver com isso. Se o seu emprego não te valoriza, por que não o larga? Ouvir músicas que não gosta só para agradar a outrém... como num papo na noite. Uma conquista, talvez. Falar de música é sempre bem-vindo. Mesmo que você não goste, há a desculpa: "não, EU CONHEÇO! JÁ OUVI! mas não é minha praia...". Ora, escrever por prazer coisas que não serão publicadas e não conseguir eliminar a tentação de expô-las. Porque você tenta. Sabe que sim.
Escrever sobre a leveza de um texto. Aquela leveza às vezes esperada e procurada, mas sempre tão distante que a procura por ela te densifica mais do que se você deixasse viver, deixasse ficar, deixasse estar como está. Você acabaria esbarrando nela e, com um golpe de sorte, ao invés de só esbarrar nela, você a albarroa.
"Relaxe. Respire fundo. Três vezes.... Isso. Não se esqueça de manter os olhos fechados. Mesmo porque eles já estão tão pesados que não seria possível abri-los nem se quisesse..." Meditação... Um espaço em preto na correria de suas divagações melancólicas. Uma folha arrancada da declaração da independência.
Engraçado, não consigo finalizar esse post. Até mesmo o fim é um ótimo tópico para ser discutido. Aquele fim que chega e não se percebe. É necessário um aviso. THE END. Mas eu prefiro um fim sutil, que chega como não quer dizer nada. E realmente não diz.

2 comentários:

Anônimo disse...

caralho beto.... que violento....
puta que o pariu... foi vc mesmo q escreveu isso?
Sério mesmo?
Num tô acreditando até agora... sim ples men te ducaralho. Escrita boa, leve, clara, incógnita, paaso, fundo, posso, claro, jogo, mágico, sonho, papel e a ponta preta de um lápis enegrindo a brancura da folha...
muito bom..
beijos
dudu

Anônimo disse...

interessante que, em 5 posts, vi a palavra ´formiga´2 vezes...