13 maio, 2008

Um dia daqueles

Até parece nome de filme ruim. Mas não tem nada a ver. Só o dia de ontem que foi estranho, mesmo.
Estava tudo normal. Na verdade, estava melhor que o normal. Eu acabei de ler A Menina Que Roubava Livros (Markus Zusak), então o dia não podia estar melhor (um dia eu explico o porquê, mas por hora saibam que não é só pelo livro). Cheguei para a aula prática de psicopatologia geral II (chique, hein!?), que, by the way, é a única parte que presta, e entrevistamos uma pessoa com o diagnóstico dúbio entre neurose e psicose (esquizofrenia megalomânica). Deixando a hipótese da neurose de lado, já que é menos fundamentada, ficamos com a psicose. Ela se dizia Nossa Senhora encarnada na Joana (fictício) desde os 16 anos. Ela tinha 25.000 anos e transou com Jesus Cristo. Além disso, ela falava manso, devagar, como uma santa, mas que pode ser por causa dos remédios que toma no hospital.
Se juntarmos tudo isso, ficamos lentos, desencaixados do dia. Explico. Quando saímos da entrevista o dia já não fazia o mesmo sentido que fazia antes. Ele estava com um significado diferente. Algo próximo de uma poesia de Arnaldo Antunes. Parecia que houve uma quebra no significado do mundo. Um degrau a menos na escada de sentido. Algo mais lento e difícil de entender.
Foi aí que conversei com um professor e ele me contou que dois psicanalistas ex-professores dele disseram que "este momento pós-entrevista é que você percebe como foi a entrevista". É aí que sentimos em nós o quanto a paciente evoluiu e sua (e a sua também) compreensão mudou.
Ele explicou que durante e entrevista temos que adequar o nosso responder ao da paciente e, com isso, passamos a ter uma melhor compreensão da história dela. Em termos humanistas, empatia. Em termos psicanalíticos, transferência. Em termos comportamentais, adequação do responder.
Nos meus termos, a psicologia te abre portas que não se fecham. Às vezes tenho medo de entrar nessa e não voltar, enlouquecer. Mas isso não seria algo tão brutal quanto a palavra "enlouquecer" proporciona. É só uma mudança de visão. Às vezes, numa sociedade futura, após a queda do capitalismo cientificista por exemplo, podemos ter a liberdade de ter visões diferenciadas. Uai, então somos presos à essa realidade que não construimos? De acordo com novos paradigmas cognitivos, nós mais construimos nossa realidade do que a recebemos do mundo. Portanto, eu tenho uma certa liberdade de ter a visão que eu quiser. Mas então, por que eu seria excluído da sociedade se eu a tiver? E isso vindo de quem é a favor de instituições manicomiais...

Começo a acreditar que tenho liberdade de pensamento. O que faço com ela? Por enquanto, tenho insônias:

2 comentários:

PAULA disse...

GENIAL ESSA TIRINHA!
E genial o sentimento que temos depois de psicopatologia né? sempre entro lá incomodada e saio incucada... chega a ser exaustivo!
E o papel moeda vamos ter que negociar ;D

PAULA disse...

Pois é, na hora que vc disse aquilo até pensei que vc podia ter lido, mas entao pensei que se tivesse lido vc não teria dito daquela forma, e eu sabia que vc realmente estava pensando “criativamente” nisso... e além de tudo pq eu adorei o que vc disse =D... e tudo isso me passou na cabeça em meio segundo! Adoro essas coisas!